O cheiro do chocolate aguça o olfato e faz a boca salivar enquanto o doce é derretido e o recheio de caramelo preparado. Os bombons, embalados em embrulhos cintilantes, atraem o olhar. As mãos dos 12 alunos tateiam a bancada com familiaridade, enquanto escutam as últimas instruções da professora. Nesta semana, eles se formarão no curso de técnico em chocolateria, na primeira turma do projeto Casa de Chocolate.
O intuito é a criação de um território dedicado somente ao chocolate em Sobradinho. De acordo com o coordenador do programa, Lacerda Alencar, o local foi escolhido devido à topografia diferenciada, numa região mais alta e de clima ameno. “E o principal: a cidade demonstra ter potencial para a economia criativa”, acrescenta. Inicialmente, 30 donos de empreendimentos familiares do ramo foram escolhidos.
O passo seguinte foi a apresentação do modelo de negócio Casa de Chocolate aos participantes — uma unidade residencial de produção de chocolate gourmet. Após a conclusão dos cursos de qualificação, os participantes começarão a vender em rede um produto padronizado e com a mesma marca: Território de Chocolate.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) ficou responsável pela capacitação em chocolateria. Os 18 que ainda não fizeram a primeira parte da qualificação também serão capacitados nas próximas semanas. A professora da primeira turma do projeto, Luiza Buscariolli, 24 anos, olha para a turma com orgulho. “Eles estão prontos para o mercado”, garante. Após 60 horas de aula e 2 mil bombons produzidos, com 18 recheios diferentes, os alunos estão aptos a avançar para o próximo passo: o curso de marketing do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Mudança
A empreendedora Viviane de Almeida, 35 anos, é uma das participantes do projeto. Ela tem uma brigadeiria em casa há dois anos e conta que a paixão por chocolate é antiga. “Minha mãe sempre fez esse doce, ela tinha vontade de vender, mas não tinha coragem de começar um negócio”, relata.
Decidida a realizar o próprio sonho e o da mãe, Viviane começou a vender os quitutes para os amigos assim que terminou a curso de comunicação social. Agora, ela não esconde a animação após ter se tornado técnica em chocolateria. “Abriu um leque maior de cardápio. Vou poder aumentar o negócio. Eu tinha demanda, mas, como não tinha conhecimento específico, não podia atendê-la.”
Há dois anos, a administradora Emmanueli Christos, 27, começou a testar receitas de pão de mel para vender. Na época, ela precisava complementar a renda para conseguir pagar a faculdade. Logo, a jovem viu nos doces uma oportunidade de mudar de vida. Hoje, pretende se dedicar exclusivamente a isso. Ao se implementar o modelo de negócio Casa de Chocolate, Emmanueli sente que se valorizará a região norte de Brasília, onde mora com os pais.
O projeto foi idealizado pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), em parceria com o Sistema S. A pasta oferecerá crédito aos empreendedores por meio do Programa de Microcrédito do Governo do Distrito Federal (Prospera). De acordo com a pasta, o programa permitiu manter e gerar emprego e renda este ano no DF. Foram investidos mais de R$ 7,5 milhões por meio dele e a meta é chegar a R$ 10 milhões até dezembro.
O último passo do projeto será a construção de uma praça gourmet batizada de A Fantástica Praça do Chocolate. O ponto turístico também ficará em Sobradinho e contará com quiosques de comida, confeitarias, chocolateiras e um pequeno teatro para apresentações artísticas, encontros com chefs, palestras, degustações e lançamentos de produtos de gastronomia.